Como surda que escuta, mas, principalmente, como surda que até três anos atrás não escutava quase nada, devo dizer que o modo como tratamos nossos idosos que não escutam não é legal. Eu mesma já me vi em situações de falta de paciência com a minha amada vó Tereca (te amo, periquita!), portanto, se eu, uma criatura que exigiu paciência e respeito das pessoas à minha volta durante toda a vida já fiz dessas, o que sobra para o resto da população?
Acima de tudo, o idoso que não ouve ou ouve mal é um ser humano. Com medos, sentimentos, angústias. A grande maioria dos idosos que eu conheço não querem de jeito nenhum causar qualquer incômodo para os seus familiares, portanto, é muito comum que eles tratem a deficiência auditiva como um problema que pode ser deixado para lá. Só que não pode. Saúde auditiva é assunto muito sério, principalmente porque já está mais do que provado que surdez não tratada pode causar depressão, apressar Alzheimer, fazer com que a pessoa se isole do mundo, etc.
Raras são as famílias que percebem a surdez de um idoso e tomam uma atitude, em vez de achar que é ‘coisa da idade’. Surdez não é coisa da idade em idade nenhuma: todo ser humano merece ouvir, audição é saúde! E digo mais, audição é saúde mental para os nossos pais, avós e bisavós. Como alguém pode achar normal deixar a surdez de um idoso pra lá só porque é mais um problema para resolver na correria do dia-a-dia? Já conheci muitas pessoas com essa atitude, e o que me deixava mais triste era constatar que eram pessoas que foram ajudadas por esses idosos durante uma vida inteira. Ingratidão define.
- Você não tem paciência para repetir algo que disse quando seus pais/avós/bisavós pedem?
- Você acha que surdez é ‘coisa de velho’?
- Você se irrita quando seus pais/avós/bisavós falam “HÃN?” várias vezes?
- Você zomba ou faz piada dos seus pais/avós/bisavós que não ouvem ou ouvem mal (mesmo que não faça isso na frente deles)?
Pois saiba que um dia pode ser você. Saiba que a expectativa de vida hoje é altíssima, e raras serão as pessoas que não terão nenhuma perda auditiva ao longo dos anos. Do câncer e da surdez nesse mundo louco e poluído – inclusive sonoramente – em que vivemos, poucos escaparão. Deixo algumas dicas para lidar com idosos que possuem perda auditiva:
- Fale de frente para a pessoa articulando bem os lábios
- Fale de um jeito natural, é mais importante falar devagar do que berrar
- Seja direto, evite frases muito longas
- Se a pessoa pedir para repetir, repita!
- Evite conversar em ambientes com muito ruído
- Evite ambientes escuros
- Quando estiverem entre várias pessoas, peça que cada um fala de uma vez e não todos ao mesmo tempo
- Converse sobre uma ida ao otorrinolaringologista
- Leve-o para fazer uma audiometria
- Encoraje-o a usar aparelhos auditivos
- Seja colaborativo e compreensivo no período de adaptação aos aparelhos
- Ajude-o a tornar o uso do AASI como algo rotineiro e indispensável
- Engaje a família toda na missão de dar qualidade de vida ao idoso com perda auditiva!
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